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    Contaminação por mercúrio atinge 56% dos ianomâmis, aponta Fiocruz

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    Uma pesquisa ainda inédita da Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz ) constatou contaminação por mercúrio entre indígenas ianomâmi . De acordo com o estudo, 56% apresentaram índice do metal acima do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Há suspeitas de relação desse fato com o aumento dos garimpos ilegais na região que usam mercúrio no processo de extração do ouro.

    A terra ianomâmi tem 9,6 milhões de hectares entre os estados de Amazonas e Roraima. É uma das populações mais isoladas do país, e a região é rica em minérios como o ouro. A pesquisa da Fiocruz foi feita entre mulheres e crianças de duas aldeias: Maturacá e Ariabu, ambas no Amazonas. Foram coletadas amostras de cabelo de 272 pessoas, depois analisadas pelo laboratório do Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA).

    De acordo com o coordenador do estudo, o pesquisador Paulo Basta, 56% das amostras apontam um índice de contaminação acima do percentual limite da OMS, que é de 2 microgramas de mercúrio por grama de cabelo examinado. Em 4% da população analisada havia concentrações acima de 6 microgramas de mercúrio por grama de cabelo, considerado o limite de tolerância biológica do corpo humano a essa substância. A partir desse valor, podem surgir doenças neurológicas.

    Uma criança de três anos de idade que teve seu cabelo analisado e apresentou um índice de 13,87 microgramas, sete vezes mais que o limite da OMS e mais de duas vezes maior que o índice de tolerância biológica.

    — A região do Alto Rio Negro, onde fica a terra indígena ianomâmi, está altamente impactada pela presença de garimpeiros ilegais. Eles usam o mercúrio no processo de extração do ouro. Esse material vai parar na atmosfera ou na água dos rios e acaba contaminando os peixes que, depois, são fonte da alimentação dos índios — disse Basta.

    O pesquisador avalia que, tanto a exploração feita pelos garimpeiros ilegais em si quanto uma técnica para encontrar minérios, podem ser os motivos para a contaminação. Para encontrar o ouro, abrem-se grandes buracos na terra ou usa-se bombas d’água para remover o solo do leito dos rios. Como o material da bacia do Rio Negro apresenta, naturalmente, doses consideradas mais altas de mercúrio, a remoção de toda essa terra pode acabar liberando ainda mais mercúrio no ambiente.

    — Esse cenário é parecido com o que encontramos em outra área da terra ianomâmi, em 2016, e em regiões de garimpo como no rio Tapajós, no Pará. A cada dia, entram novas levas de garimpeiros nessas regiões — alerta Basta.

    O líder indígena ianomami Davi Kopenawa diz que a contaminação por mercúrio do “seu povo é triste realidade”.

    — A gente sabe disso. É uma triste realidade. Garimpeiro, quando vem na nossa terra, não respeita nada. O mercúrio cai no rio, envenena o peixe e contamina a gente. Tem garimpo em nossa terra desde os anos 1970, mas aumentou muito recentemente.

    Já o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, Marivelton Barroso, diz estar preocupado com o cenário.

    — É uma situação muito preocupante. A gente tem visto que vem aumentando o fluxo de pessoas querendo adentrar o território para garimpar. E o garimpeiro não respeita nada. A gente vê isso em São Gabriel da Cachoeira todos os dias — disse o líder em referência à cidade a 858 quilômetros de Manaus e próxima da terra ianomâmi.

    Reprovação de garimpo

    Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha nesta sexta-feira mostrou que 86% dos brasileiros entrevistados são contra a mineração em terras indígenas . O levantamento, contratado pela ONG Instituto Socioambiental (ISA), mostrou que a rejeição à entrada de empresas de exploração nessas reservas — prática, hoje, ilegal — é de, no mínimo, 80% em todas as regiões, escolaridades, idades, sexos, faixas de renda e ocupações.

    Conforme o GLOBO divulgou em julho, o governo federal já finalizou a minuta de um projeto de lei que prevê a regulamentação da mineração em terras indígenas. Também ontem, o presidente Jair Bolsonaro disse que a rejeição estimada “pode ser compatível” com a realidade. Ele afirmou acreditar que há incompreensão sobre o que é um garimpo.

    *Leandro Prazeres, O Globo

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