Um software que está sendo criado pelo Ministério da Saúde com o objetivo de otimizar a gestão de recursos durante a pandemia de Covid-19 começará a ser testado no Amazonas nos próximos dias. O estado apresenta um dos piores cenários da pandemia no País, com 1.554 casos confirmados e 106 mortes, de acordo com boletim divulgado nesta quarta-feira (15).
O projeto-piloto conta com alguns dos melhores desenvolvedores do Brasil e é liderado pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês e a Fundação Itaú Unibanco, que acaba de doar R$ 1 bilhão para ações de enfrentamento ao novo coronavírus no país.
Uma equipe do Sírio-Libanês está em Manaus desde a última segunda-feira (13) para dar suporte à Secretaria de Saúde (Susam) na definição de estratégias para uma resposta rápida da rede estadual frente à pandemia. Entre os encaminhamentos realizados até agora estão ações de sensibilização das equipes, instalação de Gabinetes de Crise Hospitalar e o levantamento de informações que abastecerão o software que está sendo desenvolvido.
“Hoje nós estamos trabalhando com a formação de profissionais dentro dos hospitais que vão mapear leitos disponíveis, os recursos que estão sendo utilizados e os disponíveis. Então, o nosso trabalho hoje continua com a sensibilização e começa com a aplicação ou levantamento dos dados para poder montar, abastecer o software de informações dos recursos que tem, pacientes internados, quantos leitos que tem e a logística que vai ser necessária para atender a isso”, explicou o médico Michel Cadenas, especialista em Medicina de Desastre e líder da equipe do Sírio-Libanês.
Segundo ele, a expectativa é que, após a implementação no Amazonas, o projeto possa ser replicado nos demais estados. “São três pilares que a gente precisa: organização, logística e pronto atendimento, e não há como fazer a tomada de decisão ou organizar a informação se a gente não tem (dados sobre) quantos ventiladores eu tenho, quantos leitos estão disponíveis, quantos pacientes estão internados. Então, esse aplicativo vai permitir que a gente mapeie em tempo real o Brasil todo, esses recursos todos”, disse.
Projeto Lean das Emergências
A equipe do Hospital Sírio-Libanês já vinha atuando no Amazonas há três meses na implantação do projeto Lean das Emergências, outra iniciativa do Ministério da Saúde. Em Manaus, a missão é otimizar a assistência em três prontos-socorros – HPS 28 de Agosto, HPS Platão Araújo e HPS João Lúcio.
Desde que o trabalho em conjunto com o Sírio-Libanês começou, o Governo do Amazonas informou que avançou no Plano de Resposta Estadual para a rede de saúde diante do crescente aumento de casos do novo coronavírus. Na terça-feira (14), foi realizada reunião de alinhamento com os gestores das unidades de urgência e emergência, da atenção básica do município e empresas médicas que prestam serviço ao Estado.
“Dentro dessa estrutura do plano de resposta, a proteção do hospital de alta complexidade é o ponto que nós julgamos fundamental. Uma vez que o paciente com Covid evolua mal, ele precisa de recursos de alta complexidade. Dessa forma, a rede precisa se reorganizar para que os pacientes mais graves tenham acesso às portas hospitalares e recebam o cuidado que é necessário para superar a infecção pelo Covid-19”, detalhou Cadenas.
De acordo com o especialista, a instalação dos Gabinetes de Crise Hospitalar também está em estágio avançado nas unidades que atuam diretamente no enfrentamento à pandemia.
Entre as medidas que estão sendo tomadas está a reorganização de fluxos, com a implantação de triagem externa nos serviços de urgência e emergência. Para Cadenas, o resultado será a melhor utilização dos recursos disponíveis e a qualificação do atendimento aos pacientes.
Colapso na rede de saúde
Com o aumento de casos, o Amazonas já chega a mais de 1.554 casos confirmados do novo coronavírus, com 106 mortes, e sofre com uma rede pública à beira de um colapso, com seu principal hospital já atuando na capacidade máxima operacional.
Em pronunciamento na tarde de domingo (12), o governador Wilson Lima anunciou que o Ministério da Saúde vai repassar R$ 15 milhõespor mês para que o estado aumente a capacidade do hospital de referência em tratamento ao Covid-19 em Manaus.
Wilson Lima afirmou, também, que o estado sofre com a falta do remédio Tamiflu, usado no tratamento de doenças respiratórias. O Amazonas, além de lidar com o coronavírus, vive epidemia dessas síndromes.
“Nós estamos sinalizando, a Fundação de Vigilância em Saúde e a Susam, a necessidade de vinda de mais medicamentos para nós. Estamos com baixíssimo estoque (de Tamiflu). Número de hoje não suportará, e não suporta o atendimento. Tivemos retorno muito positivo do secretário de ciência e tecnologia, que sinalizou que já está enviando para o Amazonas as dosagens necessárias, o quantitativo para que a gente tenha na rede o Tamiflu disponível para os tratamentos”, afirmou a secretária de saúde.
Lima não rechaça uma possível aplicação de medidas mais restritivas no Amazonas. Hoje, já é determinada no Amazonas a suspensão do funcionamento do comércio, aulas e serviços não-essenciais. Há, ainda, apenas a recomendação para que a população siga o isolamento – sem determinação de quarentena.
Casos do novo coronavírus no Amazonas
O Amazonas registrou 16 novas mortes em 24 horas e o número de óbitos pelo novo coronavírus chegou a 106 no estado. No mesmo período, foram confirmados 70 novos casos da doença, conforme boletim divulgado, nesta quarta-feira (15), pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM). O número total de casos confirmados no Estado chegou a 1.554.
De acordo com a FVS-AM, a capital amazonense concentra 1.350 casos confirmados, totalizando 86% dos registros em todo o estado. O interior registra 204 casos, distribuídos em 18 municípios. No interior, a situação do município de Manacapuru preocupa as autoridades de saúde, por registrar 111 casos confirmados e seis óbitos.
Ainda conforme o boletim, o número de pessoas fora do período de transmissão da Covid-19 saltou e chegou a 194 no estado.
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*Reportagem do G1/Amazonas