A cidade de Manacapuru, no interior do Amazonas, registrou um aumento de 136% no número de casos confirmados de Covid-19 entre os dias 13 e 21 de abril. O salto em oito dias foi de 126 casos e mais dez mortes pela doença. Os dados colocam a cidade metropolitana, localizada a 69 km de Manaus, no ranking entre os maiores coeficientes de incidência e mortalidade do país.
Manacapuru é a quarta cidade mais populosa do Amazonas – com 97.377 habitantes, de acordo com estimativas do IBGE de 2019. Ela é a segunda cidade com maior número de casos de Covid-19 no estado, atrás apenas de Manaus, que tem 1.809 casos e 163 óbitos. Em todo o país, a cidade está em 23° em incidência de mortes.
O Amazonas tem a pior taxa de incidência do Brasil: são 521 casos para cada milhão de habitantes, segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde.
O primeiro paciente positivo da cidade foi registrado no dia 27 de março.Desde então, 218 pessoas testaram positivo e 12 morreram em decorrência da doença em Manacapuru. Em todo o estado, são 2.270 casos e 193 mortes.
Enquanto a média nacional é de 160 casos confirmados por 1 milhão de habitantes, o município apresenta uma taxa de 2.238,72 casos por milhão.
No último dia 13, quando 92 casos haviam sido registrados, o coeficiente era de 944,8 casos por 1 milhão de habitantes.
Em relação aos óbitos, a taxa de letalidade subiu para 112,96/1.000.000, contra 10,2 mortes por um milhão, registradas na semana passada.
Para ampliar a capacidade de atendimento, diante do crescimento no número de casos suspeitos e confirmados, no último dia 15 foi inaugurado um hospital de campanha em Manacapuru, com testes rápidos e reforço no atendimento médico. Na ocasião, o prefeito do município, Beto Dangelo afirmou que a situação “vai se agravar cada vez mais, os números mostram isso”.
Em relação aos óbitos de famílias carentes que ocorreram em Manaus, os caixões e os traslados têm sido custeados pela própria Prefeitura de Manacapuru, segundo informado à reportagem pelo prefeito.
Possíveis causas para alto contágio
Dangelo acredita que o número elevado de casos de Covid-19 se deve ao fato de a cidade estar situada na região metropolitana de Manaus, com sete municípios no entorno e acesso facilitado para outras áreas por meio fluvial e terrestre.
“Muitos pacientes, inclusive os que já vieram a óbito, são moradores de outros municípios que foram contabilizados na nossa cidade pelo fato de nós recebermos aqui e transferirmos para capital. Por isso esse número elevado”, alegou, em entrevista ao G1 nesta segunda-feira (20).
Embora Manacapuru tenha aproximadamente 100 mil habitantes, segundo levantamento do IBGE, Beto Dangelo estima que exista um quantitativo de mais de 200 mil habitantes, por se tratar de “uma cidade que é de passagem, é de trânsito, e isso fez com que nós tivéssemos esse número elevado de infectados”.
O descumprimento do distanciamento social é outro fator apontado pelo gestor por contribuir para a alta incidência de casos.
Para reforçar o isolamento, a Prefeitura de Manacapuru decretou toque de recolher para a população. Desde o dia 1º de abril, os moradores do município devem permanecer dentro de casa no período entre 20h e 6h. O decreto está previsto para seguir em vigor até o próximo dia 30.
“Tentamos não infringir o direito do cidadão de ir e vir. O toque de recolher surtiu efeito, mas durante o dia o isolamento não tem sido obedecido como deveria, apesar do trabalho desempenhado pela prefeitura”, lamentou o prefeito.
Além do toque de recolher, outras medidas adotadas para conter o avanço da doença, segundo Dangelo, incluem: barreiras de vigilância sanitária na rodovia AM-070 que liga o município a Manaus, barreiras no porto e fiscalização na área comercial.
Reforço no atendimento
Em Manacapuru foi montado um hospital de campanha no dia 15 de abril, que, segundo o prefeito, possui 38 leitos – 33 para adultos e cinco para crianças. Até a manhã desta quarta-feira (22), 11 leitos estavam ocupados. O prefeito afirma que as taxas de ocupação ainda são pequenas porque a maioria dos casos registrados “são leves”.
A prefeitura informou que, até esta terça-feira (21), sete pacientes deram entrada na unidade. Destes, dois estão em Unidades de Cuidados Intermediários (UCIs) e outros cinco em leitos clínicos, sendo acompanhados pelas equipes de saúde.
Dangelo afirmou também que a unidade possui sete máquinas que fazem o trabalho de ventialação sem que o paciente precise ser entubado. Além disso, “o hospital tem capacidade de dispor mais 12 leitos”, segundo ele.
“Nós somos o primeiro e único município a montar hospital de campanha e ter esses equipamentos disponíveis para a população no interior do Amazonas. Nenhum outro município dispõe de UCI”, disse.
O governo do Amazonas divulgou neste domingo (19) que os leitos foram montados com equipamentos comprados pelo estado, além de três, dos 15 respiradores enviados pelo Ministério da Saúde.
De acordo com o secretário executivo adjunto do Interior da Susam, Cássio Roberto Espírito Santo, o município recebeu também 15 bombas de infusão, monitores multiparamédicos e outros equipamentos e insumos.
“É o primeiro município em que a gente está enviando os respiradores do Ministério da Saúde, seguindo o critério epidemiológico de casos, para agir com responsabilidade, planejamento e para que as pessoas possam ter um atendimento de qualidade”, ressaltou.
Segundo divulgado pelo governo, os leitos de UCI são destinados a pacientes intermediários. Os respiradores que foram entregues possibilitam que o paciente receba ventilação mecânica durante 6 a 8 horas, e podem ser utilizados também dentro da ambulância, durante uma remoção para a capital.
“A gente também colocou uma ambulância aqui no município, exclusiva para Covid-19. Trocamos ambulância do tipo de B para ambulância do tipo D, que é uma ambulância UTI. A gente vai dar suporte com uma rede de gases, um tanque de oxigênio, um gerador de energia para que não falte energia 24h”, frisou Cássio.
Ele acrescentou ainda que será instalada uma câmara frigorifica em Manacapuru, devido ao aumento no número de óbitos no município. “É o primeiro município do interior em que a gente vai colocar essa câmara”, pontuou.
Com um total de 163 mortes em Manaus, três hospitais já receberam contêineres frigoríficos para aumentar a capacidade de armazenamento adequado dos corpos. Outros 43 óbitos notificados seguem em investigação pelo Laboratório Central (Lacen) e 22 foram descartados para o novo coronavírus.
Profissionais de saúde
Ainda no domingo (19), o secretário Cássio Roberto anunciou também que novos profissionais de saúde serão contratados para reforçar o recém-inaugurado hospital de campanha de Manacapuru.
“Como essa unidade é uma unidade campanha, não estava prevista, então não existia um RH (setor de recursos humanos) suficiente. A partir de amanhã (20) nós vamos iniciar a contratação de pessoas aqui para essa unidade, tanto os profissionais de Ensino Médio, como de Nível Superior. Serão contratações separadas, a gente vai referenciar um local no município que as pessoas podem procurar para fazer suas inscrições”, acrescentou Cássio Roberto Espírito Santo.
Ao G1, a Prefeitura de Manacapuru confirmou que nesta segunda (20) uma equipe de profissionais foi enviada pelo governo estadual para dar início às tratativas do processo seletivo de contratação.
Suporte
O Governo do Amazonas entregou, na quinta-feira (16), mais de quatro toneladas de insumos, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e medicamentos para o município de Manacapuru.
Foram entregues EPIs como óculos, toucas, luvas e máscaras hospitalares, além de medicamentos, 400 caixas de hipoclorito de sódio, e insumos básicos como gaze, esparadrapo, coletor para exames, agulha e algodão, para abastecer as unidades de saúde.
Também foram destinados ao município kits produzidos pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), contendo avental, bota e capuz.
Casos no Amazonas
Além de Manacapuru e Manaus, outros 25 municípios já têm casos confirmados: Itacoatiara (39); Iranduba (37); Maués (28); Parintins (29); Tonantins (13); Presidente Figueiredo (12), São Paulo de Olivença e Santo Antônio do Içá com 11 casos, Tabatinga (21); Anori (7) e Careiro Castanho (8); Tefé (6); Careiro da Várzea (4); Autazes, Coari, Lábrea e Novo Airão com dois casos cada; e Anamã, Beruri, Boca do Acre, Canutama, Carauari, Juruá, Jutaí, Manicoré e Santa Isabel do Rio Negro com um caso confirmado cada.
Em todo o estado, foram registrados mais 110 casos de Covid-19, nesta terça-feira (21), e alcançou um total de 2.270 casos confirmados do novo coronavírus, segundo boletim da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM). Também foram confirmadas mais oito novas mortes por Covid-19, totalizando 193 mortes no Amazonas. Por conta do aumento de mortes, a Prefeitura de Manaus instalou contêineres frigoríficos no cemitério público Nossa Senhora da Aparecida, no Tarumã, Zona Oeste, onde os corpos estão sendo enterrados em valas comuns.
Conforme o boletim desta terça-feira, 1.170 pessoas com diagnóstico de Covid-19 estão em isolamento social ou domiciliar, o que corresponde a 51,54% dos casos confirmados no Amazonas. De segunda (20) para esta terça-feira, mais 91 pessoas se recuperaram da doença e estão fora do período de transmissão do vírus, totalizando, agora, 726 recuperados.
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*Reportagem do G1/Amazonas