De acordo com um estudo conduzido pelo cientista político Robson Carvalho, doutorando da Universidade de Brasília (UnB), desde a redemocratização (1985) até as eleições mais recentes (2022), aproximadamente dois terços dos senadores eleitos possuem laços familiares com figuras políticas já estabelecidas.
Senadores com herança política
Dos 407 mandatos disputados nesse período, 274 deles, equivalendo a 67% dos cargos, foram ocupados por pessoas com vínculos familiares com políticos previamente eleitos. Essa tendência sugere que os senadores frequentemente herdam capital político e se beneficiam do reconhecimento do sobrenome familiar durante as eleições.
“O que a gente tem na prática é que, muitas vezes, a condução das instituições públicas é tratada como se fossem capitanias hereditárias, distribuídas e loteadas para quem apoia aqueles grupos político-familiares e também tratam os gabinetes como se fossem a cozinha de suas casas”, ressaltou o especialista.
Robson Carvalho enfatiza que essa concentração de poder em famílias políticas prejudica a representatividade democrática, excluindo grupos como mulheres, negros, quilombolas, indígenas e indivíduos de origem popular.
A pesquisa também destaca que a herança política é uma realidade em todos os estados e regiões do país. No estado de São Paulo, por exemplo, nove dos 15 mandatos para o Senado entre 1986 e 2022 foram ocupados por membros de famílias políticas.
89% dos senadores são homens
Além disso, dos 407 mandatos, 363 foram ocupados por homens, representando 89% das posições disputadas, enquanto apenas 44 vagas foram preenchidas por mulheres. Entre essas, apenas quatro mulheres negras foram eleitas para o Senado entre 1986 e 2022. Alguns estados, como Amapá e Piauí, nunca elegeram uma senadora.
Robson Carvalho conclui que essa realidade enfraquece a democracia brasileira: “Como é possível pensar em República sem representação de negros e mulheres que são a maioria da população, de índios que são os povos originários da nação e de cidadãos de origem popular que são a grande maioria dos brasileiros?”, diz.
Amazonas no Senado
No Amazonas, a realidade não é diferente do resto dos estados. De 15 senadores eleitos desde as eleições de 1986, 13 (86.67%) possuem algum tipo de herança política por terem nascido em famílias tradicionais da política amazonense. Além disso, apenas uma mulher foi eleita neste período: A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que ocupou o cargo entre 2010 e 2018.