Na terra indígena Tumucumaque, no Pará, o garimpo já é uma ameaça. A área de mineração ilegal, que explora ouro, foi descoberta há algumas semanas no Suriname e está levando pânico a uma comunidade acostumada a acompanhar à distância o avanço dos crimes ambientais.
“A gente acreditava que não chegaria aqui e estamos vendo que está chegando e que está afetando os parentes tanto aqui do Brasil quando do Suriname. Estão fazendo garimpo, e a gente acredita que é ilegal, porque o rio está sujo e o pessoal está armado, estão se escondendo e agora eles têm trazido quadriciclos e motosserras”, disse Mitore Cristiana Tiriyó Kaxuyana.
Apesar de estar no país vizinho, o garimpo fica muito próximo da fronteira e em uma área central das comunidades. Das 34 aldeias, instaladas às margens dos rios Paru de Oeste e Marapi, 23 estão em um raio de até 40 km da mina.
De acordo com os indígenas, os garimpeiros estão invadindo o território brasileiro com frequência para caçar.
Desse modo, o relato consta em uma carta do Conselho de Caciques e Lideranças Indígenas Tiriyó, Kaxuyana e Txikuyana, de 1° de outubro.
No documento, foram anexadas imagens aéreas registradas por indígenas do Suriname no dia 30 de setembro.
Dessa forma, as fotos mostram o acampamento dos garimpeiros ao lado de uma pista de pouso. Também é possível ver o leito do rio que está sendo explorado, manchado com uma cor escura.
As aldeias mais próximas, a apenas 8 km da mina, são Turunkane e Mesepituru, onde vivem cerca de dez famílias.
Segundo o cacique de Mesepituru, Zaqueu Tiriyó, aviões sobrevoam com frequência a região. “De sua aldeia dá até para ver a iluminação durante a noite. Viram estruturas de barracas, motores, roçadeiras, água, no acampamento montado próximo à pista de pouso”, registrou o conselho na carta.
Na terça-feira, dia 6, a Organização Indígena de Suriname, a OIS, acompanhou uma comitiva do governo surinamês ao local.
Segundo a OIS, dois homens foram presos e levados à capital Paramaribo para prestarem depoimento. A comitiva ficou pouco mais de uma hora no local e não encontrou evidências da atividade garimpeira. Já o Exército brasileiro afirma que foi ao local e não encontrou invasores.
No entanto, para Rodrigo Cambará, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com experiência no combate a garimpos na Amazônia, não resta dúvida de que alguém está extraindo minério no local.
Conforme ele, o maquinário deve estar escondido em algum ponto mais acima do rio, e as prisões não significam que o problema está resolvido.
Base militar deveria proteger a fronteira
A menos de 2 km em linha reta da Missão Tiriyó, onde vive Mitore Kaxuyana, está uma base da Força Aérea Brasileira (com uma pista de pouso) e o 1° Pelotão Especial de Fronteira, o 1° PEF, composto por 50 homens.
O 1° PEF fica 30 km a nordeste do garimpo. Na carta endereçada às autoridades brasileiras, os caciques pedem “o envio de efetivo militar com urgência nesta área de fronteira, com estabelecimento de acampamento militar para amparo e proteção das famílias indígenas da aldeia Mesepituru”.
O Comando Militar do Norte (CMN) informou que “o Exército com tropas do PEF realizou patrulha recente ao local e na ocasião não foi identificado a presença de estrangeiros ilícitos e garimpeiros”, destacando que “a área está localizada totalmente em território do Suriname, dificultando o levantamento de dados mais precisos”.
Ainda segundo o CMN, haverá aumento do efetivo de militares e serão feitas “ligações com os órgãos federais do país vizinho para o reforço da segurança no local”.
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Com informações do Portal BNC e Intercept Brasil.