Entenda o conceito de greenwashing e por que ambientalistas apontam contradição entre discurso institucional e prática da estatal
A nova campanha publicitária da Petrobras, estrelada pela atriz Camila Pitanga, reacendeu o debate sobre a coerência entre discurso institucional e práticas ambientais. No vídeo, Camila fala sobre uma “transição energética justa”, ao som de uma canção inédita interpretada por Diogo Nogueira. A proposta, no entanto, vem sendo duramente criticada por ambientalistas, que acusam a estatal de praticar greenwashing — termo usado para descrever estratégias de marketing que promovem uma imagem sustentável sem mudanças concretas nas ações da empresa.
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O que é greenwashing?
O conceito de greenwashing se refere ao uso de campanhas publicitárias para promover uma imagem de responsabilidade ambiental que não condiz com a realidade das operações de uma empresa. No caso da Petrobras, as críticas recaem sobre a insistência na exploração de petróleo no bloco 59 da Foz do Amazonas, uma das áreas marinhas mais sensíveis do mundo e ainda sem estudos conclusivos sobre os impactos ambientais da atividade.
Publicidade X prática: o impasse na Margem Equatorial
Enquanto a Petrobras se apresenta como protagonista da transição energética, especialistas e movimentos ambientais apontam contradições entre o discurso e a prática. A estatal planeja perfurar o bloco 59, na Margem Equatorial Brasileira, região considerada estratégica para o equilíbrio climático e a biodiversidade marinha.
Organizações civis, cientistas e povos originários pedem a suspensão da atividade, alertando para o risco de impactos irreversíveis. A falta de estudos conclusivos sobre a fauna local e os possíveis danos em caso de vazamento intensificam a resistência ao projeto.
Simulação de vazamento de óleo é a última etapa antes da licença
Apesar das críticas, o processo de licenciamento avança. O Ibama aprovou o plano conceitual da Petrobras para perfuração, considerando que os aspectos teóricos e metodológicos atenderam aos requisitos exigidos.
A última etapa prevista é a realização da Avaliação Pré-Operacional (APO), uma simulação realista de vazamento de óleo para testar a eficácia do plano de emergência. O exercício — previsto para ocorrer em 14 de julho — contará com mais de 400 pessoas, embarcações de grande porte, helicópteros e a própria sonda de perfuração, já posicionada para a operação.
A Petrobras precisa demonstrar, nesse simulado, que é capaz de atuar com agilidade e segurança para obter a licença definitiva.
Repercussão nas redes e críticas à Camila Pitanga
O envolvimento de Camila Pitanga, conhecida defensora de causas sociais e ambientais, gerou perplexidade entre ativistas. Um dos posts mais compartilhados foi do perfil ClimaInfo no Instagram:
“Oi, Camila, deixa a gente te contar: o futuro não é feito de combustível fóssil.”
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A jornalista ambiental Mary Tupiassu também criticou a participação da atriz:
“Quando a Camila Pitanga fala que é transição justa, mesmo com essa situação da Petrobras, em quem vão acreditar? Nos povos originários ou na Camila Pitanga?”
Greenwashing em debate: confiança e transparência na era climática
Para especialistas, o caso evidencia como o marketing pode colidir com a realidade corporativa. Embora a Petrobras divulgue compromissos com sustentabilidade, seu modelo de negócio segue baseado em combustíveis fósseis, com investimentos ainda tímidos em fontes renováveis.
No caso da Foz do Amazonas, a preocupação principal é com os riscos à biodiversidade de um dos maiores berçários marinhos do mundo, em uma área onde os impactos de um acidente poderiam ser devastadores.
O episódio reforça a importância da coerência entre discurso e prática, especialmente em tempos de emergência climática. Para ganhar a confiança da sociedade, alertam ambientalistas, não basta comunicar compromissos: é preciso agir de forma transparente e alinhada com a preservação do meio ambiente.
*Com informações do Portal O Fato