Um estudo realizado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) demonstrou que as taxas de contaminação e mortalidade de indígenas na Amazônia por Covid-19 superam as médias nacional e regional.
O estudo revelou que a taxa de mortalidade pelo novo coronavírus entre indígenas, de 52 a cada 100 mil habitantes indígenas, é 150% maior do que a média geral brasileira, de 21 a cada 100 mil habitantes, e 20% mais alta do que a registrada em toda a região Norte, de 43 a cada 100 mil habitantes. O número é o mais alto entre as cinco regiões do país.
A taxa de infecção pela doença a cada 100 mil habitantes, entre os indígenas, de 759, é 84% mais alta se comparada com a média do Brasil, que é de 413. O estado do Amazonas registrou, até o último domingo (21), 2.657 óbitos e mais de 63 mil infectados pelo novo coronavírus. Profissionais de saúde visitaram na quinta-feira (18) o município de Atalaia do Norte, interior do Amazonas, para reforçar o combate à Covid-19 na região do Vale do Javari, a segunda maior terra indígena do Brasil. O Ministério da Saúde confirmou 42 casos de indígenas infectados na região.
Em maio, o estado do Amazonas concentrava quase 60% dos casos da doença no país. “A doença vem atingindo de forma desigual as populações no Brasil e, em especial as populações indígenas na Amazônia brasileira. Este estudo mostra claramente que a doença tem avançado sobre essas populações de uma forma alarmante, sendo até 150 vezes maior do que a taxa de incidência por exemplo, que a gente tem visto no Brasil”, disse Ane Alencar, diretora de ciência do Ipam, em entrevista ao G1/Amazonas.
A diretora observa, ainda, que os dados apontam para uma subnotificação de casos. Segundo o estudo, desde março, quando houve o primeiro registro de morte de índios por Covid-19, a Sesai registrou 2.219 casos, enquanto o levantamento da Coiab contabilizou 1.443 adicionais, totalizando 3.662 casos confirmados, indicando “grave subnotificação oficial de 39%”. “Esta subnotificação no número de óbitos é consequência, não só, mas também do protocolo oficial que exclui indígenas residentes, mesmo que temporariamente, nas cidades. Neste caso, a Sesai reportou 65% (86) do total dos 249 falecimentos apurados pela Coiab até o dia 14 de junho de 2020”, aponta a pesquisa.
Os dados indicam, também, que distribuição geográfica da doença entre os indígenas indica um avanço rápido das infecções. No início de maio de 2020, treze DSEIs já registravam pelo menos um caso de Covid-19 confirmado. Já no final da primeira quinzena de junho, os registros alcançaram 21 dos 26 DSEIs que cobrem a região da Amazônia Legal. Conforme os dados da pesquisa, as mortes provocadas pela Covid-19 até a primeira quinzena de junho aumentaram em nove vezes em comparação a 1º de maio e já atinge 42 povos.
Até a última atualização do boletim epidemiológico indígena da Fundação de Vigilância em Saúde sobre, que data de 15 de junho, o Amazonas possui mais de 2,4 mil casos confirmados de coronavírus em na população indígena.
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Por Cíntia Ferreira, do Portal Projeta*
*Informações do G1/Amazonas