Recentemente, um dos maiores peixes de água doce do mundo, o pirarucu (Arapaima gigas), figurou como um dos alimentos que podem sumir da mesa dos amazonenses. A perda envolveria não só o desaparecimento da espécie em si, mas também de sabores tradicionais envolvendo o protagonismo do pirarucu nos pratos.
Encabeçado pelo movimento Slow Food Internacional, o projeto “Arca do Gosto” vem catalogando alimentos que enfrentam o risco de extinção cultural ou biológica. Entre eles, está o nosso gigante da água doce: o pirarucu. Conforme a própria descrição da iniciativa, o objetivo é realizar um grande inventário mundial de sabores quase esquecidos, mas ainda vivos, pelas mãos e sabedoria de poucos mestres artesãos, agricultores, produtores e cozinheiros.
A verdade é que pirarucu, peixe típico da região amazônica, enfrenta há anos uma luta pela sua existência na natureza. A espécie é um dos alvos da pesca predatória, principalmente na área da tríplice fronteira, entre Brasil, Colômbia e Peru. Sua carne saborosa, com alto valor nutricional e econômico, fez com que a espécie despertasse o interesse de pescadores ilegais, o que levou ao quase desaparecimento do peixe nos anos 1990.
Para se ter uma dimensão do tamanho do pirarucu, a espécie pode pesar mais de 200 kg e superar a marca de 3 metros de comprimento. Do animal, aproveita-se praticamente tudo: as escamas, a carne e a língua.
Regulamentação
Em meio ao risco da extinção da espécie, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) implementou uma regulamentação rigorosa em 2004, proibindo a pesca do pirarucu em alguns meses do ano e estabelecendo tamanhos mínimos para a pesca e comercialização do peixe. No Amazonas, a pesca do pirarucu é estritamente regulamentada.
Projetos e programas de proteção
O esforço para garantir a existência do pirarucu não foi só do poder público. As organizações não-governamentais implementaram grandes projetos e programas que mudaram a trajetória desse peixe amazônico. Destaca-se nesse meio o trabalho desenvolvido pelo Instituto Mamirauá, que há 24 anos realiza ações para o manejo sustentável e participativo do pirarucu. A organização foi uma das responsáveis por garantir a sustentabilidade da pesca desta espécie, conservando o equilíbrio nos ecossistemas em que o pirarucu vive e, ao mesmo tempo, gerando renda para as populações locais.
O trabalho gerou grandes resultados, como o aumento do estoque pesqueiro do pirarucu em 427% nas áreas manejadas da Reserva Mamirauá, além do incremento na renda dos pescadores da região.
Risco de extinção
Hoje, o pirarucu é classificado na categoria de espécies quase ameaçadas de extinção, segundo a plataforma Salve, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Essa nomenclatura é um lembrete! O pirarucu de hoje pode sumir dos pratos dos brasileiros num futuro nem tão absurdo e nem tão distante assim.
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Com informações da Gazeta da Amazônia*