O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na manhã nesta quinta que é preciso aderir ao “fora, Bolsonaro”. “É preciso começar o ‘fora, Bolsonaro’ porque não é possível a gente permitir que ele destrua a democracia. As instituições já deveriam ter reagido. A única coisa que o Bolsonaro não faz é dizer onde está o Queiroz e quem mandou matar a Marielle. Ele não responde nada.”
“A verdade é que o Bolsonaro não tinha condições de governar o Brasil em tempos de normalidade, quanto mais nessa crise. […] O problema do Bolsonaro é que ele não pensa em governar o país. Ele transformou os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e do Nordeste em inimigos, só porque o contrariam”, afirmou. As declarações foram dadas à Rádio Povo do Ceará e reproduzidas em seu Twitter.
A cilada do impeachment
Condenado pela Lava-Jato, Lula foi solto no início de novembro, beneficiado por um novo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) segundo o qual a prisão de condenados somente deve ocorrer após o fim de todos os recursos. O petista, porém, segue enquadrado na Lei da Ficha Limpa, impedido de disputar eleições.
Até agora, Lula vinha criticando Bolsonaro, afirmando que ele não tinha condição de continuar no poder. O petista chegou a falar em impeachment e renúncia, mas evitava a defesa clara do “fora, Bolsonaro”.
Reunião da cúpula do PT do último dia 9 havia decidido não aderir a esse movimento. Lula e dirigentes do partido fizeram a avaliação de que as condicionantes para um impeachment não estavam presentes (crime de responsabilidade, vontade e mobilização popular e maioria no Congresso).
De lá para cá, porém, Bolsonaro seguiu com a atitude de desafiar o isolamento social e subiu o tom contra os demais Poderes. Ele demitiu o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), por discordar de suas orientações técnicas e de seu protagonismo. E, no último domingo, participou de ato em que apoiadores pediam uma intervenção militar no país.
Na terça, as bancadas do PT na Câmara e no Senado resolveram aderir ao “fora, Bolsonaro”. Na opinião dos parlamentares, houve escalada autoritária por parte de Bolsonaro e o presidente cometeu crime de responsabilidade. A posição foi defendida em reunião com Lula, Fernando Haddad (PT) e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann. Na ocasião, Gleisi afirmou que “Bolsonaro e seu governo não estão à altura para comandar o país”.
Impeachment
A participação de Bolsonaro no ato de domingo também levou o ex-candidato presidencial Ciro Gomes (PDT) e o presidente do PDT, Carlos Lupi, a protocolarem um pedido de impeachment contra Bolsonaro nesta quarta.
Com isso, os casos sob análise do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegam a 24, incluindo pedidos de parlamentares do PSOL e um do deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), ex-aliado de Bolsonaro.
O documento de Ciro e Lupi acusa Bolsonaro de cometer crime de responsabilidade por ter incentivado atos contra Legislativo e Judiciário no último domingo. Na manifestação, que pedia intervenção militar, apoiadores do presidente fizeram críticas ao Congresso e ao STF.
Em discurso, o presidente afirmou a eles que “acabou a época da patifaria” e gritou palavras de ordem como “agora é o povo no poder” e “não queremos negociar nada”.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a abertura de inquérito para investigar as manifestações realizadas no último domingo. O pedido de investigação foi feito na segunda-feira pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.
O grito de “fora, Bolsonaro” já é adotado por parte da esquerda. As frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular estão entre os que defendem a saída do presidente. Os partidos de esquerda e centro-esquerda PT, PSOL, PDT, PSB, PC do B e Rede assinaram um manifesto em que afirmam que Bolsonaro não tem condições de seguir governando e deveria renunciar.
A participação de Bolsonaro no ato de domingo ampliou a frente de oposição a seu governo. No 1º de Maio, um ato virtual organizado por 11 centrais sindicais deve reunir Lula, Ciro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Em reunião na segunda, líderes de oito partidos de oposição no Congresso combinaram de organizar um ato conjunto virtual, para mobilizar as redes e panelaços contra o presidente Bolsonaro, com a participação de artistas.
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Com informações de O Valor Econômico*