O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou por videoconferência nesta segunda-feira (6) com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em meio à tensão comercial provocada pela sobretaxa imposta a produtos brasileiros. A reunião virtual, realizada às 10h30 no Palácio da Alvorada, durou cerca de 30 minutos.
Participaram do encontro o vice-presidente Geraldo Alckmin, o assessor especial Celso Amorim e os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Sidônio Palmeira (Secom).
A conversa marca a primeira interação direta entre Lula e Trump desde que o líder americano assumiu o cargo, no final de 2024. O diálogo ocorre em um momento sensível, após a Casa Branca determinar um tarifaço de 50% sobre parte das exportações brasileiras, medida que afeta cerca de 36% das vendas externas aos EUA.
“Pintou uma química”, diz Lula
A possibilidade de aproximação entre os dois presidentes foi sinalizada no mês passado, durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Na ocasião, Trump discursou logo após Lula e ambos tiveram um breve cumprimento. Segundo o presidente americano, houve uma boa “química” entre os dois. Lula confirmou o sentimento, dizendo que “aquilo que parecia impossível aconteceu”.
Fontes do governo brasileiro afirmam que a estratégia de realizar uma videoconferência antes de um encontro presencial foi adotada para identificar pontos de convergência e divergência e construir uma relação de confiança entre os líderes.
Diplomacia cautelosa
Desde a eleição de Trump, a diplomacia brasileira tem adotado uma postura reservada. Auxiliares do Itamaraty temem que oscilações políticas do governo norte-americano possam dificultar o avanço das negociações. Segundo diplomatas, há receio de que conselheiros próximos de Trump tentem barrar a reaproximação com o Brasil.
O novo tarifaço foi anunciado de forma progressiva ao longo dos últimos meses, com justificativas econômicas e políticas. Trump alegou um suposto déficit comercial com o Brasil não confirmado por dados oficiais e mencionou “direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos”, em referência indireta aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante seu discurso na ONU, Lula reafirmou que a soberania e a independência do Judiciário brasileiro não estão em negociação, mas destacou estar aberto ao diálogo comercial com os Estados Unidos. Entre os temas de interesse mútuo estão a regulação das big techs e a exploração de terras raras, considerados estratégicos para ambos os países.


