O número de incêndios na floresta amazônica brasileira aumentou 28% em julho em relação a um ano atrás, revelaram dados oficiais neste sábado, com alguns ambientalistas alertando que o salto nos dados desta semana pode sinalizar uma repetição do ritmo de destruição da maior floresta tropical do mundo registrado no ano passado.
A agência brasileira de pesquisa espacial Inpe registrou 6.803 incêndios na Amazônia no mês passado, ante 5.318 em julho de 2019.
Embora esse seja um número mais alto de incêndios em julho nos últimos três anos, ele desacelera em comparação ao pico do ano passado, de 30.900 incêndios em agosto – o maior para o mês em 12 anos.
Ainda assim, grupos ambientalistas dizem que há sinais preocupantes do que pode acontecer, com os últimos dias do mês passado mostrando um aumento acentuado nas queimadas.
Mais de mil incêndios foram registrados no dia 30 de julho, o maior número em um único dia em julho desde 2005, de acordo com uma análise do grupo Greenpeace Brasil.
“É um péssimo sinal”, disse Ane Alencar, diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). “A gente pode esperar que agosto vai ser um mês muito difícil e setembro pior ainda”.
Os defensores do meio ambiente culpam o presidente de direita Jair Bolsonaro por encorajar madeireiros, mineradores e especuladores de terras ilegais a destruírem a floresta com sua visão de desenvolvimento econômico para a região.
Bolsonaro defende seus planos de introduzir mineração e agricultura em reservas protegidas como uma maneira de tirar a região da pobreza.
Este ano, o presidente autorizou um destacamento militar de maio a novembro para combater o desmatamento e incêndios florestais. Ele também proibiu incêndios na região por 120 dias.
Em 2019, o Brasil instituiu as mesmas políticas temporárias no final do ano, somente depois que incêndios na Amazônia provocaram protestos globais a partir de agosto.
Os cientistas dizem que a floresta tropical é uma defesa vital contra o aquecimento climático porque absorve gases de efeito estufa.
A ONG Amazon Conservation afirmou que contabilizou 62 grandes incêndios no ano, dados do dia 30 de julho. Muitos deles ocorreram após 15 de julho, quando a proibição de incêndio entrou em vigor, indicando que a medida não foi totalmente eficaz, disse Matt Finer, que lidera o projeto de rastreamento de incêndios da ONG.
A esmagadora maioria dos grandes incêndios, nos quais os níveis elevados de aerossóis na fumaça indicam grandes quantidades de biomassa queimada, ocorreu em áreas recentemente desmatadas, e nenhuma foi contabilizada na floresta virgem, disse Finer.
Os criminosos geralmente extraem madeira valiosa da selva antes de incendiar a terra para aumentar seu valor para a agricultura e a pecuária. Incêndios naturais são muito raros na Amazônia.
O desmatamento atingiu o maior patamar em 11 anos em 2019 e subiu 25% no primeiro semestre de 2020.
No início deste mês, cientistas da agência espacial americana NASA disseram que as temperaturas mais altas da superfície no tropical Oceano Atlântico Norte em 2020 estavam afastando a umidade da Amazônia.
“Como resultado, a paisagem do sul da Amazônia se torna seca e inflamável, tornando os incêndios humanos usados para agricultura e limpeza de terras mais propensos a crescer fora de controle”, disse a NASA em seu site.
Os incêndios também estão piorando no Pantanal, as maiores áreas úmidas do mundo, adjacentes ao sul da Amazônia. Em julho, o número de incêndios na região mais do que triplicou, chegando a 1.684, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo dados do INPE, o maior número desde o início dos registros em 1998.
Leia mais:
Amazonas tem redução de 12% em alertas de desmatamento no mês de junho
Inpe: Amazônia tem pior semestre de desmatamento em uma década
Mais de 99% dos casos de desmatamento são ilegais
Com informações do Portal Uol*