A desnutrição de mulheres grávidas estaria diretamente relacionada ao aumento dos casos de microcefalia pelo vírus da zika. Um estudo publicado na sexta-feira (10) pela revista “Sciences Advances” mostrou que uma alimentação pobre em proteínas aumenta os riscos de infecção nas mães o que pode provocar a malformação dos fetos.
Cientistas brasileiros e ingleses defenderam que os casos de síndrome congênita associada à infecção pelo vírus da zika (CZS, da sigla em inglês) estão ligados a fatores ambientais e de estilo de vida. O estudo foi feito em conjunto por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Patrícia Gaez, pesquisadora da UFRJ e uma das autoras do estudo, disse ao G1 que durante o surto de 2015, 40% das mães que deram a luz a crianças com microcefalia associada ao zika tinham algum tipo de restrição proteica.
A CZS, engloba uma série de malformações associadas com a zika que podem se manifestar durante a gestação. Entre elas estão as alterações cerebrais (microcefalia e lisencefalia), problemas na retina e aumento dos ventrículos cardíacos.
A zika é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo responsável pela dengue.
Casos se concentram no Nordeste
O Brasil foi apontado pelos pesquisadores como um dos países mais afetados pelo zika. A maior parte dos casos – cerca de 75% – esteve concentrada na região Nordeste.
“A infecção congênita pelo zika pode ser piorada por fatores ambientais, principalmente uma dieta pobre em proteínas”, disse em nota o professor da Universidade de Oxford Zoltán Molnár, um dos autores do estudo.
Os cientistas explicaram que a dieta das comunidades mais pobres do país, baseada no alto consumo de carboidratos e baixo consumo de proteínas teve um papel definitivo no agravamento dos efeitos da síndrome.
Já a pesquisadora brasileira explicou que a comunidade científica conhecia a relação entre desnutrição e enfraquecimento do sistema imunológico.
“Quando tem uma dieta de restrição proteica, o indivíduo fica mais suscetível a infecções”, disse Garcez. “E essa foi uma das nossas hipóteses para explicar porque teve mais casos de microcefalia nas regiões com menos IDH. A alimentação é um co-fator relevante.”
Mesmo resultado em cobaias
O estudo replicou os efeitos da infecção em camundongos que receberam uma dieta pobre em proteínas. Os pesquisadores observaram que os sinais da doença, já registrados em humanos, também foram identificados nas cobaias.
“Melhorar a dieta por si só não protege contra infecções pelo zika”, explicou Molnár. “Mas pode determinar a gravidade da infecção.”
A pesquisadora da UFRJ alertou também para a prevenção. Garcez defendeu a importância de evitar a proliferação do mosquito, vetor da doença.
O estudo ponderou que ainda é cedo para realizar experimentos clínicos em humanos, mas defendeu que o padrão identificado nos camundongos já seria suficiente para apontar um caminho no desenvolvimento de tratamentos para a infecção.
Com informações do G1*