O conclave para a escolha do sucessor do papa Francisco terá início na próxima quarta-feira (7). Durante o processo, os cardeais eleitores permanecem isolados e sem comunicação com o mundo exterior. A eleição exige uma maioria de dois terços dos votos. Com 133 eleitores confirmados até o momento, o futuro pontífice precisará de pelo menos 89 votos para ser escolhido.

O conclave mais demorado já registrado ocorreu em 1268 e deixou a Sé Apostólica vacante por 2 anos, 9 meses e 2 dias.

Missa marca início do conclave

A abertura do conclave será marcada pela celebração da missa Pro eligendo Pontifice, prevista para as 10h (horário local) de quarta-feira. A cerimônia litúrgica reúne os cardeais para invocar a inspiração do Espírito Santo no processo de escolha do novo papa.

Nos últimos tempos, os conclaves ocorreram de forma relativamente rápida, não se estendendo por mais de cinco dias. Entretanto, não há previsão oficial de duração para este processo. Segundo fontes do Vaticano, há entre os cardeais tanto os que esperam uma definição breve — motivada, entre outros fatores, pelo Jubileu em curso — quanto os que preveem um tempo mais longo, dado o perfil diverso dos eleitores, muitos dos quais se encontrarão pessoalmente pela primeira vez.

“Se o conclave demorar, é porque os cardeais não se conhecem, não é porque estão divididos”, afirmou o cardeal arcebispo de Porto Alegre, d. Jaime Spengler, durante uma missa em Roma no último sábado (4). Ele também destacou que o processo não é de natureza política: “Espírito de oração, porque precisamos obedecer a Deus, e aqueles que obedecem a Deus são guiados pelo Espírito Santo”.

Entre os temas centrais mencionados pelos cardeais está a importância da continuidade dos rumos do pontificado de Francisco, especialmente no que diz respeito aos ensinamentos do Concílio Vaticano II. Para o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, “o próximo papa não será uma xerox do papa Francisco”.

O que é o conclave?

O termo conclave designa a reunião dos cardeais eleitores que escolhem o novo papa, realizada de forma estritamente reservada na Capela Sistina. A palavra vem do latim cum clave, que significa “com chave”, remetendo à prática iniciada no século XIII de trancar os cardeais até que a escolha fosse concluída.

O conclave deve começar no máximo 20 dias após a morte ou renúncia do papa. Durante o processo, os cardeais ficam isolados do restante do mundo. Os últimos três papas foram eleitos em poucos dias.

Quem compõe o Colégio dos Cardeais?

Atualmente, o Colégio Cardinalício é formado por 252 cardeais em todo o mundo. Desses, 135 têm menos de 80 anos e, portanto, estão aptos a votar. Representando 71 países, esta é considerada a eleição mais geograficamente diversa da história. Dois desses eleitores, no entanto, informaram que não poderão comparecer por motivos de saúde, o que reduz o número de votantes para 133.

A maioria dos cardeais eleitores (108) foi nomeada pelo próprio papa Francisco.

Origem do conclave

A instituição do conclave surgiu como resposta à demora na escolha de um novo papa. Após a morte de Clemente IV, em 1268, o trono papal permaneceu vago por quase três anos. Dezoito cardeais se reuniram no Palácio Papal de Viterbo, mas não chegaram a um consenso. Exasperada, a população local trancou os cardeais no palácio, selando as portas com tijolos e até removendo o telhado para forçá-los a uma decisão. O escolhido foi Gregório X, então arquidiácono de Liège, que se encontrava na Terra Santa.

Em 1274, o próprio Gregório X promulgou a constituição Ubi periculum, que formalizou o conclave, determinando que os cardeais deveriam permanecer reclusos “com chave” até a eleição.

O primeiro conclave realizado após essa promulgação foi em Arezzo, em 1276, que resultou na escolha do papa Inocêncio V.

Regras do voto papal

Ao longo dos séculos, o processo foi sendo reformulado. Em 1621, Gregório XV introduziu o voto secreto e escrito. Em 1904, Pio X vetou qualquer tipo de veto externo e reforçou o sigilo absoluto sobre os eventos do conclave — incluindo após o término. Toda a documentação passa a ser acessível apenas ao papa eleito.

A norma atualmente em vigor é a constituição Universi Dominici Gregis, de 1996, promulgada por João Paulo II e modificada em 2013 por Bento XVI. Ela determina, entre outros pontos, que o conclave deve ocorrer na Capela Sistina.

Como funciona a votação?

Estão previstas quatro votações diárias: duas pela manhã e duas à tarde. Caso o conclave chegue à 33ª ou 34ª votação sem definição, realiza-se um segundo turno direto entre os dois cardeais mais votados na última rodada. Mesmo assim, permanece a exigência de maioria qualificada de dois terços dos votos — com os dois finalistas excluídos dessa votação.

A eleição só é válida se um dos candidatos alcançar o número mínimo de votos estabelecido.

O que simboliza a fumaça?

Após cada rodada de votação, os votos são queimados. Se nenhum nome alcançar os dois terços necessários, a fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina é preta. A fumaça branca, por sua vez, anuncia que um novo papa foi escolhido.

É para essa chaminé que os olhares do mundo se voltam durante o conclave, à espera do sinal que indicará o fim da eleição.

O que significa “Habemus Papam”?

A expressão latina Habemus Papam significa “temos um papa” e é usada para anunciar oficialmente a eleição do novo pontífice. O anúncio é feito pelo cardeal protodiácono, da loggia da Basílica de São Pedro, e inclui tanto o nome civil do eleito quanto o nome papal que ele escolheu.

Atualmente, o protodiácono é o cardeal francês Dominique Mamberti.

*Com informações do Estadão