Em meio a um embate direto com o Greenpeace, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugeriu, pelo Twitter, que a ONG internacional possa ter ligação com o derramamento de óleo na costa nordestina. O post é acompanhado por uma imagem do navio da organização, o Esperanza.
“Tem umas coincidências na vida né… Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano…”, escreveu ele, com a hashtag que ironiza a ONG.
O ministro não informou, contudo, qual a origem da imagem, quem fez a captura nem o horário ou data do registro. Ainda que a foto seja meramente ilustrativa, ele também não diz quem identificou a presença do navio, em que dia e em que localidade.
O Metrópoles entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) para solicitar mais informações sobre a foto, se ela seria ilustrativa ou não, e para saber se há mais detalhes a respeito da identificação do navio próximo à costa brasileira. Em sua resposta, a assessoria de imprensa da pasta indicou que a reportagem procurasse o próprio Greenpeace para saber.
Ocorre que o autor do post é o ministro e não o Greenpeace. Logo, a responsabilidade por esses esclarecimentos, seguindo o princípio da autoria, é do ministério. Ao ser questionado sobre a origem da suposição, a assessoria não se posicionou. O espaço continua aberto.
O Google Imagens retorna uma série de resultados com a mesma foto postada por Salles em outras ocasiões. Ela foi utilizada, por exemplo, em um artigo de 2018 do próprio Greenpeace da Espanha. No site do Greenpeace espanhol, a foto apareceu em 2017. Uma busca no Yandex, outro site de busca de imagens, também traz como resultado um artigo de 2016 com a mesma foto usada pelo ministro.
A reportagem procurou a ONG e eles classificaram, em nota, a insinuação como “uma mentira para criar uma cortina de fumaça na tentativa de esconder a incapacidade de Salles em lidar com a situação”. Segundo a assessoria, a foto é antiga e o navio está, hoje, em Montevidéu (Uruguai), como parte da campanha internacional “Proteja os Oceanos”, que vai do Ártico até a Antártida, onde chegará no primeiro semestre de 2020. Ainda de acordo com eles, a embarcação estava na Guiana Francesa entre agosto, quando começou o vazamento, e setembro.
Na segunda-feira (21/10/2019), Salles usou, também no Twitter, um vídeo editado do Greenpeace acusando a ONG de se recusar a ajudar a limpar as manchas do nordeste. Na versão completa, que tem 3 minutos, o representante da organização diz que tem voluntários atuando e faz pontuações acerca de desastres com óleo.
O ministro já declarou, inclusive em rede nacional, que testes comprovaram que o petróleo é de origem venezuelana. Ele afirmou ainda que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) encaminhará solicitação formal à Organização dos Estados Americanos (OEA) para cobrar um posicionamento da Venezuela.