Relatório aponta plano para sanções dos EUA e fuga para a Argentina
A Polícia Federal recuperou mensagens, áudios e documentos no celular do ex-presidente Jair Bolsonaro que, segundo o relatório final da investigação, revelam tentativas de obter sanções dos Estados Unidos contra o Brasil, uma minuta de pedido de asilo político à Argentina e estratégias para descumprir ordens judiciais.
O material embasou o indiciamento de Bolsonaro e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Conversas recuperadas mostram articulações políticas
As mensagens incluíram conteúdos apagados, recuperados com programa de extração de dados, que permitiram a análise do contexto. Entre os registros estão desentendimentos entre Bolsonaro e o filho Eduardo e xingamentos do pastor Silas Malafaia ao parlamentar.
Burla de restrição ao uso de redes sociais
De acordo com a PF, Bolsonaro continuou usando redes sociais por meio de terceiros e listas de transmissão. Alguns conteúdos chegaram a ser compartilhados mais de 350 vezes.
Defesa de general e plano de atentado
O relatório aponta que no celular foi encontrada uma prévia de defesa do general Mário Fernandes, apontado como autor do plano chamado Punhal Verde Amarelo, que previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Minuta de asilo político à Argentina
Entre os documentos, a PF identificou uma minuta de 33 páginas de pedido de asilo ao presidente da Argentina, Javier Milei. O arquivo estava associado a Fernando Bolsonaro, nome da esposa do senador Flávio Bolsonaro.
Contato irregular com Braga Netto
A investigação localizou mensagem enviada ao ex-presidente por número pré-pago vinculado ao general Walter Braga Netto, que estava proibido de contato com Bolsonaro. O texto foi enviado em 9 de fevereiro de 2024, após a Operação Tempus Veritatis.
Eduardo Bolsonaro admitiu foco em salvar o pai
Em mensagem de WhatsApp a Bolsonaro, Eduardo afirmou que as ações nos EUA buscavam evitar a condenação do ex-presidente, e não garantir anistia ampla aos condenados de 8 de janeiro de 2023. A PF concluiu que a intenção era assegurar impunidade pessoal de Bolsonaro.
Discussão por apoio a Tarcísio de Freitas
As mensagens mostram Eduardo Bolsonaro irritado com o apoio declarado por Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O deputado usou xingamentos contra o pai e disse que sua atuação nos EUA estava sendo prejudicada.
Silas Malafaia criticou Eduardo Bolsonaro
O pastor Silas Malafaia enviou mensagens a Bolsonaro chamando Eduardo de “babaca” e ameaçando expor publicamente sua insatisfação. O líder evangélico teve celular apreendido pela PF ao desembarcar no Rio de Janeiro nesta quarta-feira (20).
Transferências de R$ 2 milhões para Michelle Bolsonaro
A PF identificou que Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em 4 de junho, um dia antes de prestar depoimento. No mês anterior, Eduardo Bolsonaro havia recebido o mesmo valor e repassado parte para a esposa, Heloísa. A polícia afirma que houve estratégia semelhante para ocultar recursos.
Documento contra Moraes enviado por advogado ligado a Trump
O relatório também cita contato de Bolsonaro com o advogado americano Martin de Luca, representante da Trump Media e da Rumble. No mesmo dia em que protocolou ação contra o ministro Alexandre de Moraes (STF) na Justiça da Flórida, o advogado enviou cópia a Bolsonaro. A PF considera a atuação como indício de coordenação contra o STF.
Reações após indiciamento
Em nota nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro afirmou que sua atuação nos Estados Unidos “jamais teve como objetivo interferir em qualquer processo em curso no Brasil” e defendeu o projeto de anistia em tramitação no Congresso.
Silas Malafaia, alvo de busca e apreensão no aeroporto do Galeão, disse após depor que o ministro Alexandre de Moraes é “um criminoso” e que luta contra o que chamou de “ditadura judicial”.