O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), disse nesta sexta-feira (1°), que as constantes declarações do presidente Jair Bolsonaro contrárias às medidas restritivas para conter o avanço do coronavírus no país podem ter contribuído para que o isolamento social em São Paulo registrasse índices abaixo dos 50% nos últimos dias.
“Se o presidente colaborasse, pelo menos, ajudando as pessoas, orientando as pessoas a poder a ficarem dentro de casa, talvez a gente não estivesse nesse índice preocupante de 48% apenas de pessoas ficando dentro de casa na cidade de São Paulo”, afirmou Covas em entrevista à GloboNews.
A taxa de isolamento social no estado de São Paulo caiu para 47% na quarta-feira (29). Índice é o mesmo do dia 9 de abril, o pior desde o início da quarentena obrigatória em 24 de março. Ideal recomendado pelas autoridades de saúde para conter a propagação da Covid-19 é de 70%.
Covas ainda afirmou que as ações tomadas pela prefeitura e governo paulista conseguiram controlar o avanço da pandemia no país e impedir um número de óbitos ainda maior.
“Não fossem as medidas que nós adotamos na cidade de São Paulo e no estado, o número de mortes seria muito maior do que o que nós já temos aqui. A gente conseguiu, de alguma forma, segurar o crescimento da curva”.
O prefeito de São Paulo afirmou que a gestão municipal negocia com a rede privada o uso de leitos particulares para ampliar a capacidade de atendimento na capital paulista.
Entretanto, Covas destacou que mesmo com o aumento do número de leitos na cidade, a única forma de evitar uma crise aguda do sistema é a manutenção da quarentena.
Do contrário, a cidade poderá registrar cenas como em Guayaquil. Epicentro da pandemia no Equador, hospitais e cemitérios da cidade entraram em colapso antes mesmo de chegar ao ápice da crise.
“Se a população não colaborar, não ficar dentro de casa, o sistema de saúde não vai dar conta. As pessoas precisam se conscientizar, precisam ajudar a prefeitura. Estamos fazendo de tudo para não repetir essa cena. (…) Ninguém gosta desta situação, mas é o indicado pela área da saúde, senão nós não vamos dar conta e vamos repetir cenas como as em Guayaquil”.
“Mesmo com essa ampliação muito grande, de 3500 leitos aqui na cidade, se a população não colaborar, não fizer a sua parte, não ficar dentro de casa, a gente vai ter cenas se repetindo na cidade de São Paulo como nós já tivemos mundo afora e aqui no Brasil, em cidades como Manaus e Belém.”
Bloqueios de ruas
Na noite desta quinta (30), Covas anunciou que a cidade terá bloqueios definitivos de trânsito em avenidas a partir de segunda-feira (4). A medida já havia sido adotada nesta semana, mas apenas de forma educativa.
Covas disse também que avalia rever a lista de comércios essenciais que têm permissão para funcionar apesar da quarentena, mas que essa decisão só será tomada no dia 8 de maio. Hoje, a lista inclui supermercados e materiais de construção, entre outros estabelecimentos.
As medidas têm como objetivo aumentar a taxa de isolamento social no município, que está em 48%, enquanto o ideal para combater a propagação do coronavírus é de 60% a 70%.
Também nesta quinta, o secretário municipal da Saúde disse que a capital não vai determinar o fim do isolamento social no dia 11 de maio. “Já há uma decisão tomada. Nós não temos como, na capital é absolutamente impossível isso. Ao contrário, nós estamos começando uma discussão para fortalecer algumas medidas para que a taxa de isolamento”, disse Edson Aparecido.
Aparecido destacou que os bloqueios devem acontecer especialmente em áreas onde o coronavírus foi mai letal, como as periferias das zonas Norte e Leste.
Na segunda-feira (27), a Prefeitura de São Paulo realizou um bloqueio educativo na Radial Leste, na Zona Leste. Na ocasião, duas faixas foram bloqueadas pela CET, provocando trânsito lento na região. A ideia é fazer com que esses bloqueios educativos se tornem definitivos a partir de segunda.
Leia mais:
Mais dois idosos morrem por coronavírus em hospital de São Paulo
Bolsonaro diz que possui um dossiê com plano de Maia, Doria e STF contra ele
Medicamento acelerou a recuperação de pacientes com coronavírus
*Reportagem do G1