Não tão popular no Brasil como a dengue, a zika e a chikungunya, a febre do vírus Oropouche também é transmitida por um mosquito e faz parte da realidade de diversas regiões amazônicas. De olho no avanço da doença, pesquisadores de instituições no Amazonas encontraram o vírus, pela primeira vez, na saliva e na urina de um paciente infectado, e relatam os resultados em artigo de 27 de fevereiro da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.
Até então, a infecção era diagnosticada por meio de exames de sangue e da análise do DNA do vírus, também chamado de Orov e transmitido pelo Culicoides paraensis, conhecido como borrachudo, maruim ou pólvora. Como outros arbovírus, aqueles transmitidos por mosquitos, já haviam sido encontrados em fluidos corporais que não o sangue, os pesquisadores resolveram buscar pelo Orov na saliva e na urina de pacientes com sintomas da doença. “Dessa forma, não só ampliamos o conhecimento a respeito do vírus como abrimos caminho para um novo meio de diagnóstico da doença, contribuindo para seu controle e o bem-estar do paciente”, comemora Felipe Gomes Naveca, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Amazônia. Também participaram do estudo pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e do Hospital Adventista de Manaus.
Entre fevereiro e junho de 2016, no início da epidemia de zika no Amazonas, pacientes que visitaram o Hospital Adventista apresentando sintomas sugestivos de infecção por arbovírus foram convidados a participar do estudo. Os pesquisadores coletaram 352 amostras de saliva e urina, enviadas em seguida ao Instituto Leônidas e Maria Deane da Fiocruz, unidade de pesquisa do Ministério da Saúde responsável pelo laboratório que fez os primeiros diagnósticos de zika durante o surgimento da doença no Amazonas.
Foram analisadas a saliva e a urina de cinco pacientes comprovadamente infectados pelo Orov, por exames de sangue, além de 50 outros escolhidos aleatoriamente. Uma mulher de 51 anos de idade, morando em Manaus (AM), cujas amostras foram coletadas cinco dias após o início dos sintomas, teve o diagnóstico confirmado pelo exame de saliva e na urina. De acordo com seus registros médicos, ela apresentou febre, erupção cutânea, mialgia, prurido, dor de cabeça, artralgia, linfadenopatia, diarreia e vômito durante a infecção.
Os pesquisadores pretendem agora investigar o comportamento do vírus na saliva e na urina. “É importante que, mesmo sem um risco iminente de epidemia, o conhecimento sobre esse arbovírus seja ampliado, para que não sejamos pegos de surpresa caso ele se propague mais fortemente”, diz Naveca. O Orov foi detectado pela primeira vez no Brasil em 1960. De lá para cá, já foram notificados surtos isolados em estados do Norte (Pará, Acre, Amapá, Amazonas e Tocantins), no Maranhão, no Mato Grosso e em Minas Gerais. Outros países, como Peru e Panamá, também já tiveram registros do vírus.
Fonte: Agência Bori