terça-feira, outubro 28, 2025
More
    HomeSociedadeAmazonasContaminação por mercúrio atinge 56% dos ianomâmis, aponta Fiocruz

    Contaminação por mercúrio atinge 56% dos ianomâmis, aponta Fiocruz

    Publicado em

    Uma pesquisa ainda inédita da Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz ) constatou contaminação por mercúrio entre indígenas ianomâmi . De acordo com o estudo, 56% apresentaram índice do metal acima do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Há suspeitas de relação desse fato com o aumento dos garimpos ilegais na região que usam mercúrio no processo de extração do ouro.

    A terra ianomâmi tem 9,6 milhões de hectares entre os estados de Amazonas e Roraima. É uma das populações mais isoladas do país, e a região é rica em minérios como o ouro. A pesquisa da Fiocruz foi feita entre mulheres e crianças de duas aldeias: Maturacá e Ariabu, ambas no Amazonas. Foram coletadas amostras de cabelo de 272 pessoas, depois analisadas pelo laboratório do Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA).

    De acordo com o coordenador do estudo, o pesquisador Paulo Basta, 56% das amostras apontam um índice de contaminação acima do percentual limite da OMS, que é de 2 microgramas de mercúrio por grama de cabelo examinado. Em 4% da população analisada havia concentrações acima de 6 microgramas de mercúrio por grama de cabelo, considerado o limite de tolerância biológica do corpo humano a essa substância. A partir desse valor, podem surgir doenças neurológicas.

    Uma criança de três anos de idade que teve seu cabelo analisado e apresentou um índice de 13,87 microgramas, sete vezes mais que o limite da OMS e mais de duas vezes maior que o índice de tolerância biológica.

    — A região do Alto Rio Negro, onde fica a terra indígena ianomâmi, está altamente impactada pela presença de garimpeiros ilegais. Eles usam o mercúrio no processo de extração do ouro. Esse material vai parar na atmosfera ou na água dos rios e acaba contaminando os peixes que, depois, são fonte da alimentação dos índios — disse Basta.

    O pesquisador avalia que, tanto a exploração feita pelos garimpeiros ilegais em si quanto uma técnica para encontrar minérios, podem ser os motivos para a contaminação. Para encontrar o ouro, abrem-se grandes buracos na terra ou usa-se bombas d’água para remover o solo do leito dos rios. Como o material da bacia do Rio Negro apresenta, naturalmente, doses consideradas mais altas de mercúrio, a remoção de toda essa terra pode acabar liberando ainda mais mercúrio no ambiente.

    — Esse cenário é parecido com o que encontramos em outra área da terra ianomâmi, em 2016, e em regiões de garimpo como no rio Tapajós, no Pará. A cada dia, entram novas levas de garimpeiros nessas regiões — alerta Basta.

    O líder indígena ianomami Davi Kopenawa diz que a contaminação por mercúrio do “seu povo é triste realidade”.

    — A gente sabe disso. É uma triste realidade. Garimpeiro, quando vem na nossa terra, não respeita nada. O mercúrio cai no rio, envenena o peixe e contamina a gente. Tem garimpo em nossa terra desde os anos 1970, mas aumentou muito recentemente.

    Já o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, Marivelton Barroso, diz estar preocupado com o cenário.

    — É uma situação muito preocupante. A gente tem visto que vem aumentando o fluxo de pessoas querendo adentrar o território para garimpar. E o garimpeiro não respeita nada. A gente vê isso em São Gabriel da Cachoeira todos os dias — disse o líder em referência à cidade a 858 quilômetros de Manaus e próxima da terra ianomâmi.

    Reprovação de garimpo

    Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha nesta sexta-feira mostrou que 86% dos brasileiros entrevistados são contra a mineração em terras indígenas . O levantamento, contratado pela ONG Instituto Socioambiental (ISA), mostrou que a rejeição à entrada de empresas de exploração nessas reservas — prática, hoje, ilegal — é de, no mínimo, 80% em todas as regiões, escolaridades, idades, sexos, faixas de renda e ocupações.

    Conforme o GLOBO divulgou em julho, o governo federal já finalizou a minuta de um projeto de lei que prevê a regulamentação da mineração em terras indígenas. Também ontem, o presidente Jair Bolsonaro disse que a rejeição estimada “pode ser compatível” com a realidade. Ele afirmou acreditar que há incompreensão sobre o que é um garimpo.

    *Leandro Prazeres, O Globo

    Últimos Artigos

    Empresa é multada em R$ 100 mil por operar sem licença em Manaus

    Uma empresa de produtos químicos situada no Distrito Industrial I, zona sul de Manaus,...

    Governo do Amazonas entrega kits bebê e cestas a mais de 18 mil famílias

    O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos...

    Prefeitura de Manaus lança solicitação on-line do Cartão PassaFácil 60+ com entrega em casa

    A Prefeitura de Manaus, por meio do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) e...

    Servidores da CCM terão abono natalino garantido em dezembro

    Os servidores da Câmara Municipal de Manaus (CMM) receberão abono natalino no mês de...

    Mais artigos como este

    Empresa é multada em R$ 100 mil por operar sem licença em Manaus

    Uma empresa de produtos químicos situada no Distrito Industrial I, zona sul de Manaus,...

    Governo do Amazonas entrega kits bebê e cestas a mais de 18 mil famílias

    O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos...

    Prefeitura de Manaus lança solicitação on-line do Cartão PassaFácil 60+ com entrega em casa

    A Prefeitura de Manaus, por meio do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) e...