O cenário apocalítico vivido em janeiro deste ano no Amazonas, com hospitais lotados, gente morrendo por falta de oxigênio e cemitérios congestionados será apenas um ensaio de um drama ainda maior, caso a força da covid-19 não seja contida no Estado.
O alerta é do cientista Lucas Ferrante, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), um dos autores do estudo que previu a segunda da pandemia do novo coronavírus na região.
Ele integra um grupo de trabalho sobre a pandemia que reúne pesquisadores do Inpa, da Universidade Federal de Minas Gerais, da Universidade Federal do Amazonas e do Instituto Butantan.
Para ele, a segunda onda no Amazonas não começou com a nova variante do vírus encontrada no Estado, mas pela superexposição da população local ao contágio.
Ferrante sustenta que a força da nova cepa só prevaleceu em janeiro. Isso, para ele e seu grupo de estudo, é suficiente para mostrar que o drama vivido no estado não refletiu a força da nova cepa, mais letal e contagiante.
Força da nova variante
A previsão de seu grupo é que a força da nova variante poderá prevalecer já no mês que vem, inclusive mostrando resistência às vacinas que estão sendo aplicadas na população.
“Agora, essa linhagem, sendo duas vezes mais transmissiva, se nós não contermos a pandemia no curto tempo, ela é suficiente para que surjam novas mutações e nós podermos inclusive ter uma variante resistente às vacinas de mercados. Isso é extremamente preocupante”.
O pesquisador falou isso no fim da manhã desta terça-feira, dia 9, em cessão de tempo pedida para ele pelo deputado Álvaro Campelo (PP).
Crítica à flexibilização
Em sua fala, sem citar nome, Lucas Ferrante criticou o discurso feito momentos antes pela deputada Alessandra Campêlo (PP), que defendia a abertura gradual das atividades econômicas do Estado, em decorrência da queda das taxas de transmissão da doença nos últimos dias.
“Muito pelo contrário é um absurdo pensar numa flexibilização agora, não é porque estás e caindo a transmissão que você vai abrir. Então, no momento que você abre, há uma retomada das contaminações”, ponderou.
Lockdown e vacina
O pesquisador apontou medidas que podem ser adotadas para evitar uma terceira onda para os próximos três meses.
“O que nós recomendamos agora é um lockdown extensivo de 20 dias a um mês. Precisa-se restringir a circulação de 90% da população de Manaus concomitantemente com uma ação massiva de vacinação, que deve cobrir pelo menos 70% da população nos próximos três meses”, recomendou.
Reinfecção
Outro detalhe da fala do pesquisador na ALE-AM foi em relação às pessoas que já tiveram o coronavírus e desenvolveram a doença.
“Nós sabemos através desse modelo que quem teve contato com a primeira linhagem não tem resistência contra a P1. Isso mostra que os casos de reinfecção serão extremamente grandes”.
Leia mais:
David Almeida anuncia recorde na vacinação em Manaus
Governadores da Amazônia cobram leitos e auxílio de Bolsonaro
TCU exige que Manaus diga se houve pressão para usar cloroquina