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    Tragédia ambiental no RS poderia ter sido evitada

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    A tragédia ambiental do Rio Grande do Sul causou grande comoção e impacto na sociedade brasileira. Todos querem saber o que está acontecendo e o porquê tantas vidas estão se perdendo.

    A surpresa vem quando descobrimos que o relatório “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima”, previu em 2015, que as mudanças climáticas haviam alterado o comportamento das chuvas e como consequência, a possibilidade de incidentes graves na região sul do país.

    O relatório da Presidência da República, encomendado em 2014 pela gestão de Dilma Rousseff, (PT), apontava para eventos climáticos graves como a elevação do nível do mar, mortes por onda de calor, colapso de hidrelétricas, falta d’água no Sudeste, piora das secas no Nordeste e o aumento das chuvas no Sul. O relatório foi considerado “alarmista” e engavetado há 10 anos atrás.

    Agapan alertou o governo estadual sobre tragédia

    Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) enviou ao governador Eduardo Leite (PSDB) um ofício entitulado “Alerta ao Estado do Rio Grande do Sul e ao Governador do Estado”, seguido pelo subtítulo que dizia: “Registro para fins de tomada de conhecimento sobre alertas emitidos há várias décadas”. O documento foi entregue no último dia 26 de abril, dias antes da tragédia anunciada.

    O ofício detalha as enchentes e tempestades ocorridas no estado em junho, setembro, outubro e novembro de 2023, demonstrando o distanciamento entre o governo estadual e o planejamento de enfrentamento de crises graves, além da comunicação sobre tragédias e a falta de planos claros de evacuação para a população e cultura de comunicação preventiva de desastres.

    O misto entre falta de políticas públicas e disponibilização de informações à população levou ao quadro de 95 mortos, 372 pessoas feridas e 131 desaparecidas até o momento. Esta tragédia poderia ter sido evitada caso as autoridades competentes estivessem alertas e desempenhando um bom exercício do poder público em prol da população. Não se pode conter a chuva, no entanto os riscos dela à vida da população podem ser contidos e geridos para a minimização de danos.

    A crise no comportamento das chuvas é global

    Infelizmente, as mudanças climáticas não afetam apenas o Brasil. As enchentes no Rio Grande do Sul não podem ser associadas unicamente ao El Niño. Segundo o meteorologista Arthur Müller, do Canal Rural, “ o desequilíbrio da atmosfera está intimamente ligado às mudanças climáticas em todo o globo”.

    A tempestade mediterrânea Daniel atingiu a Líbia no dia 10 de setembro de 2023 e afetou diretamente as cidades de Benghazi, Sousse, Al Bayda, Al-Marj e Derna, que registrou o rompimento de duas barragens. Em Derna, 25% da cidade desapareceu debaixo d’água. Mais de 11 mil pessoas morreram.

    Em 16 de abril deste ano, imensas inundações repentinas aconteceram em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, após chover 100 milímetros em 12 horas, o equivalente ao esperado para 1 ano inteiro. “A natureza envia sinais da urgência em reduzir os gases de efeito estufa. São muitos eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes de um ano para cá”, diz o especialista.

    O exemplo do estado do Rio Grande do Sul pode servir como um alerta a todos os outros para que se atualizem as políticas públicas de enfrentamento a tragédias ambientais. Situações similares aconteceram em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em São Sebastião, em São Paulo e em tantos outros municípios. O cenário é sempre o mesmo. Cabe à população cobrar de seus eleitos, um posicionamento a respeito do compromisso com a vida dos cidadãos brasileiros.

    *Luísa Oliveira

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