O discurso de defesa dos povos originários da Amazônia vai ser o grande ingrediente das apresentações deste Festival, em Parintins
A noite de sábado, dia 11 de junho, em Parintins, reforçou a expectativa de uma disputa acentuada de narrativas de Garantido e Caprichoso dentro da arena do Bumbódromo. Cada agremiação vai querer mostrar quem defende mais as bandeiras de luta dos povos que formam a diversidade cultural da Amazônia.
No evento denominado “Noite da Resistência”, realizado no curral Zeca Xibelão, o Caprichoso reforçou o discurso de defensor da matriz indígena no Festival Folclórico de Parintins. Como atrações principais, o pajé Erick Beltrão e a cunhã poranga Marciele Albuquerque representaram o curandeiro místico e a guerreira indígena, como personagens essenciais no desenvolvimento do tema de 2022, “Amazônia, nossa luta em poesia”.
Detalhe simbólico foram as várias vezes em que os marujeiros (ritmistas da Marujada de Guera) executaram uma paradinha de alguns segundos com um dos braços levantados com punho cerrado, gesto que simboliza apoio, solidariedade e coalização, imagem que virou símbolo da luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos nos anos 1950/1960.
Falando da preparação para o festival, Marciele diz que estuda o tema não somente focado no seu personagem. “A gente não começa esse estudo somente pra arena (do bumbódromo). É uma causa real, que eu acompanho de fora, usando a minha voz como cunhã-poranga, como mulher, como amazônida, pra reforçar essa luta que é dos povos originários, dos povos indígenas”, disse Marciele, lembrando que participou da Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, no ano passado, 2021.
Edwan Oliveira, diretor artístico e de arena, diz que o tema da Caprichoso vem ganhando mais adeptos, inclusive, com a força das redes sociais. “O Caprichoso busca não só fazer arte dentro da arena (do bumbódromo), mas também abraçar as causas das minorias”, diz Edwan.
Itens substitutos e novidades ‘encarnadas’
Do outro lado de Parintins, na Cidade Garantido, o boi-bumbá de cores vermelho e branco mostrou que reforçou seu staff artístico oficializando um grupo de substitutos para os itens individuais.
Na apresentação desse grupo na noite de sábado, a direção artística deu destaque para toadas de exaltação das raízes negras e indígenas. O Garantido, que neste ano defende o tema “Nós, o povo da Amazônia”, vai vir com a narrativa de defesa dos povos originários da região, assim como seu oponente.
Assim como a Marujada, o tema injetou novidades na performance dos batuqueiros. A Batucada mostrou um toque diferente ao acompanhar Márcia Siqueira (única mulher entre os quatro levantadores oficiais) e Bruno Costa (levantador substituto) quando cantaram a toada “Festa do Povo Negro”. Sinais de que vem por aí uma apresentação recheada de passeios pelas tradições indígenas e negras, em especial.
Estreia da Rainha ativista
E mesmo no banco de reservas, a Rainha do Folclore do grupo “Arena 2”, Ana Luiza Carneiro, comemorou como titular sua estreia no palco da Cidade Garantido.
Manauara de nascimento, Ana Luiza fundou, em 2021, o movimento “Fora das Sombras – Visibilidade Negra”, como forma de divulgar sua cor preta, legitimamente amazonense.
“O boi tem toda uma ancestralidade indígena e africana, e às vezes, a gente não tem uma representatividade tão forte dentro. Então, eu espero que as mulheres negras se sintam representadas e convidadas a brincar de boi. E não se sentir com vergonha de mostrar sua cor, de mostrar seu cabelo. Que cada um possa mostrar sua beleza porque (o Boi) é um espaço pra todo Mundo”, finalizou a rainha.
Também nesta noite de sábado, o Garantido apresentou a cunhã poranga substituta, Luana Alfaia que é filha de pai indígena.
“Meu pai é saterê e isso me enche de orgulho. Por isso estar no cargo de cunhã poranga Arena 2 aumenta minha responsabilidade na preservação das minhas raízes”, afirmou Luana.
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