sexta-feira, julho 26, 2024
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    Explicando: a crise política e humanitária no Sudão

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    A República (Autoritária) do Sudão, um país da África, está no meio de uma crise política e humanitária. Nas últimas semanas, protestos invadiram a capital, Cartum, e mais de 100 civis foram mortos por militares. O massacre foi acobertado pelo atual Governo.

    A organização humanitária Anistia Internacional diz que tem evidências que as forças militares do Governo sudanês estão cometendo sérios crimes contra a população. O atual governo chegou a cortar a internet no país para impedir a comunicação sobre o clima de guerra na nação.

    Como começou a crise política?

    Em dezembro de 2018, o governo aumentou o preço de produtos como pão e combustível, para tentar diminuir a crise econômica no país. O Sudão sofre com uma profunda crise econômica que começou quando a parte sul do país se separou após um referendo em 2011, levando consigo a riqueza do petróleo. Em janeiro, a inflação no país já havia atingido 70%.

    Caminhão de suco chega para matar a sede da população. (Foto: David Degner/Getty Images)

    Como resposta, manifestantes foram para as ruas de Atbara — cidade no nordeste do Sudão, demonstrar insatisfação com o então líder do Governo, Omar al-Bashir, que estava no poder desde o golpe militar de 30 de junho de 1989. O ex-presidente é acusado pela Corte Internacional Criminal (ICC, na sigla em inglês) de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade no conflito armado da região de Darfur.

    O governo, na época, declarou estado de emergência na cidade e estabeleceu um toque de recolher, das 18h às 6h. A repressão severa das manifestações alimentou a raiva das pessoas.

    Os protestos se intensificaram em abril deste ano, quando os manifestantes ocuparam a praça de Cartum, em frente ao quartel-militar, e exigiram que o presidente renunciasse.

    Protestantes sudaneses em frente ao quartel militar. (David Degner/Getty Images)

    Após 16 semanas de protestos, os militares derrubaram o governo e prenderam Bashir no dia 11 de abril. A queda do ditador foi celebrada pelos manifestantes, mas as primeiras medidas tomadas pela junta logo levantaram o temor de que o antigo regime tivesse sido substituído por uma nova ditadura militar e que a queda de al-Bashir não teria passado de uma disputa interna pelo poder.

    Quem lidera o país agora? 

    Desde abril, o Sudão tem sido governado por militares. A junta militar de transição tem sido liderada pelo General Abdel Fattah Abdelrahman Burhan. Os militares dizem que precisam ficar no poder para manter a ordem e a segurança no país.

    O novo chefe militar ‘prometeu’ em 13 de abril, que um governo civil voltará a ser formado no país após consultas a oposição em um período de transição que terá a duração de, no máximo, dois anos. Em um pronunciamento pela televisão, Abdel Fattah cancelou o toque de recolher noturno que vigorava no Sudão, suspendeu a constituição do país e anunciou a libertação de presos detidos por decretos autoritários do agora ex-presidente.

    A junta militar também decidiu não entregar al-Bashir, que está preso no Tribunal Penal Internacional.

    O tenente-general Abdel Fattah Abdelrahman Burhan, novo chefe militar do Sudão, realiza pronunciamento na TV em 13 de abril. (HO/Sudan TV/AFP)

    Por que os protestos continuam? 

    Desde a queda do ex-ditador, o país vive um caos generalizado. A tomada de poder pelos militares apenas continuou a ditadura de al-Bashir. De acordo com o Financial Times, até a internet do país chegou a ser cortada pelo governo durante uma semana em junho, em uma tentativa de isolar o Sudão do resto do mundo e impedir a comunicação sobre o atual clima de guerra no interior da nação.

    A população pressiona os militares a entregarem o governo a um civil. A Associação de Profissionais Sudaneses, organização à frente dos protestos, quer que o governo civil a ser instalado no país, leve Bashir e seus temidos Serviços de Segurança e Inteligência Nacional (NISS, na sigla em inglês) à Justiça, segundo a France Presse.

    Além disso, a população ainda sofre com a crise econômica e pela falta de produtos básicos. Comida, por exemplo, está em falta.

    Manifestante participa de um protesto em frente ao Ministério da Defesa, em Cartum, capital do Sudão, em abril. (Foto: Stringer/Reuters)

    O que está acontecendo com os manifestantes?

    No início do mês, o exército invadiu um acampamento envolvido com os protestos contra a situação na capital de Cartum. Nessa ocasião, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 100 pessoas foram executadas pela Junta que assumiu o Governo.

    Segundo um comunicado do Comitê Central de Médicos do Sudão, “as milícias do Conselho Transitório continuam a matar e a aterrorizar pessoas inocentes e indefesas nas ruas e dentro das suas casas em Cartum e em todo o país, o que aumenta o número de mortos e feridos nos hospitais”.

    O Governo do Sudão contraria os números dos opositores. No primeiro balanço feito desde o início da operação militar para desmobilizar o acampamento de manifestantes em Cartum, o ministro da Saúde negou “que o número de mortos tenha atingido os 100”, assegurando que “não ultrapassa os 46”, segundo a agência de notícias oficial Suna.

    Estima-se também que mais de 500 mulheres e crianças tenham sido violentadas sexualmente. Com as tentativas do atual governo de abafar o que está acontecendo, esses números podem ser ainda maiores.

    E agora, o que acontece? 

    A oposição mantinha negociações com o conselho militar para o estabelecimento de um governo de transição liderado por civis que governaria o país até a realização de eleições democráticas, mas as negociações fracassaram depois do assassinato de mais de 100 pessoas.

    Segundo a agência Reuters, a oposição sudanesa deverá propor, em breve, a nomeação de oito civis para conselho de transição. Deverá ainda nomear um economista para chefiar o Governo.

    Informações a respeito do que, de fato, está acontecendo no país são escassas. É ainda mais complicado saber o que pode vir a acontecer. Mas, há apenas uma certeza: não é possível ignorar a crise que assola a população sudanesa.

     

     

     

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